segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Em defesa da Raça Asinina de Miranda

por Rui Matos Nogueira*

O Planalto Mirandês viu surgir, nas suas condições naturais impares, um grupo diferenciado de exemplares de gado asinino, constituindo, os indivíduos remanescentes, o efectivo da entretanto reconhecida Raça (autóctone) Asinina de Miranda. De uma população numerosa, passou a cerca do milhar actual, um declínio acentuado ditado pelas profundas alterações no mundo rural e que têm expressão máxima na desertificação demográfica e envelhecimento dos povoados rurais. Neste quadro se inscreve um igualmente crescente abandono da actividade agrícola, facto que a par da mecanização retirou importância ao burro enquanto animal de trabalho. A constatação da involução no número destes burros na região levou à criação da Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino
 (AEPGA), uma associação não governamental sem fins lucrativos constituída notarialmente a nove de Maio de 2001, que
 tem por objecto social a preservação e a promoção do gado asinino, com especial enfoque na Raça Asinina de Miranda, de forma a defender do risco de extinção um património genético único, potenciando um modelo sócioeconómico em perfeita harmonia com o meio ambiente. A transmissão inter-geracional das tradições culturais associadas à relação secular entre homem e burro constitui um aspecto a valorar enquanto contribuinte para uma identidade regional. O Burro de Miranda ajudou durante muito tempo a compor a paisagem das propriedades rurais do planalto mirandês, nas quais formavam o principal suporte do serviço realizado a tracção animal. Podem ter cedido as estradas para os carros e muitos campos para as máquinas agrícolas mas é uma raça ainda amplamente usada na região pelas suas características fenotípicas e comportamentais, apreciada pela resistência associada à robustez, pela maciez do passo que lhes confere um certo "glamour" nos desfiles em romarias da região. Hoje, mesmo sem o grau de importância de outrora, estes animais ainda são úteis na propriedade. A AEPGA colabora activamente com os criadores de animais da raça in
 locum, mediante a prestação de cuidados técnico veterinários, fomentando os nascimentos através da reactivação de "Postos de Cobrição" havia muito extintos, promovendo campanhas de bem-estar animal, organizando acções de formação em maneio, revitalizando feiras, recriando rotas comerciais em tempos realizadas em burro. Organiza passeios temáticos em burro que visam, para além de formar na área eleita, dar a conhecer o património natural e edificado da região. Realiza workshops de veterinária e zootecnia na área da sua competência, tendo a temática da abordagem terapêutica, mediada por recurso ao burro, recebido um especial acolhimento por parte da associação. Nas escolas, realiza acções de sensibilização que visam a educação para uma cidadania activa e responsável.


Conscientes de que cada geração humana é detentora da Terra para as gerações futuras e que lhe cabe a missão de gerir de forma que esse legado seja preservado, e que, quando dele se faz uso, essa utilização seja prudente;


Estamos conscientes do valor cada vez maior de que as raças autóctones se revestem do ponto de vista mesológico, ecológico, genético, científico, recreativo, cultural, educativo, social e económico.

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*da AEPGA, tlm: 922 032 644

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