A professora Bruna Real* pousou para a "Play Boy" e colocou a sua Escola (Torre D. Chama) e o seu concelho (Mirandela) no top dos media. Tal circunstância, aliada à pena inteligente do nosso ilustre conterrâneo Dr. Armando Fernandes, num artigo de opinião no semanário Nordeste de 25 de Maio, motivou-nos a transcrever, com a devida vénia, o artigo Para além da nudez.
A era da "despudorada" exibição do corpo, dos corpos em todas as posições possíveis conhecidas, escondidas durante séculos nos infernos das Bibliotecas, no recato dos Museus e galerias, já chegou. Já chegou através da Internet penetrando no meio das grandes massas anónimas, vivificando. No embate a literatura erótica e pornográfica foi rapidamente vencida, subsistindo algumas revistas pois permitem aceder à contemplação da nudez no comboio, no autocarro e no metro enquanto dura o vai-vem da faina diária.
A sociedade global plasma poderosa energia informativa, que o homem debaixo do amplo guarda-chuva do hedonismo solicita, tentando combater o tédio que tenderá a aumentar pelo efeito da repetição. A cada um cabe escolher até no referente ao espreita intimidades não íntimas, sabendo inocular aos seus o valor da máxima liberdade com a máxima responsabilidade, onde possa subsistir a defesa das crianças de modo a livrá-las de serem objecto de nefanda exploração, também na óptica de visualizadores de tudo quanto a internet divulga. Cultivando a exigência no acesso à técnica os educadores podem conseguir êxitos assinaláveis nesse combate. Diante dessa grande e tremenda coisa que é o Mundo do espectáculo, diante dessa grande e tremenda coisa que é o negócio da exploração dos corpos, é evidente o desconforto de todos quanto não apreciam o ritmo alucinante das propostas, no entanto, não podem arvorarem-se em censores pois a sua liberdade termina quando principia a dos outros. Mas podem rejeitar propostas, ofertas, recusar solicitações e ninguém os impede de fecharem os olhos, de criticarem e ousarem dizer aquele-aquela vão nus, e nós não gostamos do que vemos.
A estória da rapariga de Mirandela nas páginas da revista das coelhinhas, trouxe ao de cima uma multidão de opiniões - esta é mais uma - onde não faltam os achismos os preconceitos, as jocosidades e só não surgem as das feministas por razões sobejamente conhecidas. Vi as fotos em causa, não impressionam por aí além, impressiona-me isso sim o facto da fotografada não ter pensado na possibilidade de ascender à condição de símbolo de alteração radical da sua pessoa pela passagem de anónima a conhecida após a exibição das partes pubendas. Assim sendo, forçoso é nesta altura remeter-se ao silêncio, esperar convites rendosos e saír da terra, de modo a poder continuar a mostrar as colorações corporais em função das zonas do corpo.
O poder actuou em face da situação criada não só pela matriz ideológica e educacional que defende, também por razões de psicologia social. É um caso difícil por todas as razões, mas que não deve dar azo a polémicas - muito menos para condenarmos pessoas - mas para que acima das paixões e dos juízos apressados prevaleça a objectividade e por fim não reste um vazio que é inútil a deixar um travo amargo em todos. Dos façanhudos censurantes de um lado aos adeptos da total permissividade do extremo contrário, estão aqueles que tentam encarar o caso de forma rigorosa e isenta, prevalecendo o incómodo latente entre eu e o kantiano princípio da vontade geral. Subsiste o incómodo. Efectivamente, a moça provocou um enorme alarido num palco extremamente perigoso - na Escola. Esta a realidade. Acerca das declarações da Senhora Vereadora nada digo, conheci-a fugazmente numa reunião em Viana do Castelo onde prometeu enviar-me os números da revista editada pela Câmara consagrada ao azeite (promessa não cumprida), nestas ocasiões as palavras antes de serem proferidas devem ser medidas ao milionésimo milímetro.
Mas quem é capaz? Só os sages da forma perfeita, mas sobram dedos de uma mão na sua contagem. A restrição ensaiada traz voluntariamente à discussão o milenar tema do pudor e da nudez que, desde sempre originou milhares de pensamentos, tratados, poemas, romances, contos e novelas. As novelas televisivas ajudaram imenso na realista amostra da nudez. E os leitores lembram-se daquele cavalheiro de cabeleira hirsuta, olhos arregalados e dentes cerrados à procura da Bruna?
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