sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Entrevista com o Presidente da Direcção da CTMAD

O Flaviense, Professor Doutor Jorge Valadares, em termo de mandato, propõe-se para um segundo.

Sente-se satisfeito com a forma como decorreu este seu mandato que está quase a terminar?
Digamos que me sinto de consciência tranquila, satisfeito não, pois eu sou sempre um eterno insatisfeito comigo próprio e com os outros que me rodeiam. Sinto que por mais que se faça há sempre algo que se poderia ter feito melhor. O facto de, por razões imperiosas, não ter podido contar a tempo inteiro com alguns dos associados que convidei para me acompanharem leva-me a inferir que, se tivesse podido contar muito mais com eles, o muito que fizemos podia ter sido ainda ampliado. Sinto que cumpri, a actividade da Direcção foi intensa e é indício disso o facto de termos tido ao longo destes três anos cerca de 100 reuniões com quórum, quando se nos limitássemos ao mínimo imposto pelos Estatutos, teríamos tido cerca de 57 reuniões. Sem possibilidade legal de explorarmos a Sede para restauração mas apenas para convívio dos associados, servimos para cima de 120 (dias) refeições ao longo deste período e realizámos cerca de 115 atividades, na Sede e fora dela.

Os associados da CTMAD residentes em Lisboa gostam de reviver os usos e costumes da nossa região e ter acesso aos produtos genuínos que nela se produz. Conseguiram neste mandato satisfazer esses gostos e preferências?
Não o conseguimos menos do que nas direções anteriores que tiveram como nós o forte condicionalismo imposto pela actual Sede. As Festas tradicionais do Magusto e do Folar e do Azeite foram realizadas com sucesso, assim como a Ceia de Natal e o Jantar dos Reis. Também realizámos persistentemente a Festa dos Santos Populares, de menos tradição e talvez por isso com muito menor concorrência.

Essas Festas deveriam servir não só para os associados se divertirem e comprarem os nossos bons produtos, mas também para divulgar estes, não acha?
Sim, e é por isso mesmo que decidimos envolvermo-nos em duas das nossa Grandes Festas na Baixa pombalina, uma das zonas mais turísticas de Lisboa, o que obrigou a uma logística muito mais complexa e trabalhosa. Uma delas, em que fomos a única Casa Regional a aderir a uma Festa da Associação das Casas Concelhias, começou na sexta, dia 29 de Maio de 2009, ao fim da tarde e só terminou no domingo, dia 31, no final do dia. A outra, que também decorreu na Praça da Figueira e no mesmo ano, foi a nossa tradicional Festa do Folar e do Azeite, que associou à sua tradicional finalidade uma outra que se traduziu numa justíssima homenagem a Trindade Coelho, um grande escritor natural de Mogadouro que foi um dos fundadores da nossa vetusta e a mais antiga das casas regionais portuguesas e seu primeiro Presidente da Assembleia Geral. Obrigou a diversas reuniões para contarmos com a colaboração da Câmara de Lisboa, da Câmara de Mogadouro e da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Foram duas excelentes oportunidades de darmos enorme visibilidade aos nossos produtos regionais bem como aos grupos folclóricos e bandas que participaram, mas há que dizer que todas as outras Grandes Festas que realizámos também contaram com a presença de não transmontanos residentes em Lisboa, claro em muito menor número.

Sei que um dos grandes desígnios da CTMAD estatutariamente contemplado é divulgar também a nossa cultura literária e científica e homenagear os seus grandes vultos. Tiveram isso em devida conta?
Procurámos cumprir esse desígnio, embora sinta que a escolha das pessoas a homenagear nem sempre é fácil, até por desconhecimento e por ser subjetiva. Concretizámos uma homenagem já decidida no tempo em que eu era o Vice-Presidente, que foi a do Mestre Pintor Nadir Afonso e que decorreu durante a sessão comemorativa do 104º aniversário da CASA. Claro que não escondo o meu orgulho por ter contribuído para esta homenagem por se tratar de um flaviense e grande amigo, mas o facto de ainda recentemente este Pintor ter sido homenageado e condecorado pelo Presidente da República mostra que a homenagem da CTMAD foi justíssima. Assim como o foi a do Dr. Raul Rego, um jornalista de grande prestígio que foi um político republicano consequente que lutou pela liberdade de expressão do pensamento político e social. Nessa homenagem esteve presente o ex-Presidente da Assembleia da República, Dr. Almeida Santos. Não foi exactamente uma homenagem, que bem a merecia também, mas uma oportunidade de realçar a «transmontaneidade» e o «transmontanismo» do Eng. Tomás Rebelo do Espírito Santo, de Vila Real, o facto de termos publicado o seu livro Viver, Defender e Divulgar transmontaneidade e transmontanismo. Este Ex-Governador Civil do distrito de Vila Real tem sido ao longo de vários anos um dedicadíssimo associado e dirigente da CTMAD. No que respeita à divulgação da nossa cultura posso aqui referir o lançamento de livros de autores como Bento da Cruz, António Modesto Navarro, José Manuel Pavão e João Cerqueira, Luís Vale, Fernando Chiotte, Altino Cardoso e vários outros.

Que apoios financeiros tem tido a CTMAD? E bem-feitorias houve?
O suporte mais importante é o dos associados que pagam quotas. Procurámos e conseguimos angariar mais associados, tendo admitido só nos dois primeiros anos do nosso mandato 113 o que veio aumentar o número de sócios pagantes em mais de 15 %. Tivemos alguns apoios do Governo Civil de Lisboa e do de Vila Real, dos Municípios de Valpaços, Chaves, Carrazeda de Ansiães, Sernancelhe, Vinhais, Santa Marta de Penaguião, Vila Real e Mogadouro, e da Junta de Freguesia de São João de Brito, mas houve outros Presidentes de Municípios que deram ou prometeram dar apoios logísticos, por exemplo à deslocação de grupos etnográficos às nossas Festas. Os apoios têm-se sido cada vez mais escassos e o que nos tem valido é uma grande economia e racionalização na gestão financeira. Facilitámos o pagamento de quotas pelos associados, aderindo ao sistema “e-banking”, imprescindível para permitir aos associados a adesão ao Sistema de Débito Directo e reduzimos o custo total das comunicações em cerca de menos 52 % do custo anterior. Isto não nos impediu de termos melhorado a qualidade dos serviços de TV relativamente ao sistema anterior e de termos melhorado o sistema informático com a aquisição de um novo computador e uma nova impressora. Além disso, introduzimos algumas beneficiações na cozinha que contemplaram a aquisição de uma máquina de lavar louça, a melhoria da instalação eléctrica, pintura, armários, etc., e também nas instalações sanitárias, incluindo um novo pavimento, pinturas, reparações elétricas, etc.

Porque decidiram alterar o “layout” do jornal da CASA?
Para melhorar o seu aspeto e economizar o custo, tendo para tal contado com a colaboração de um experiente designer gráfico. Infelizmente não conseguimos manter a tão ambicionada periodicidade mensal do jornal, facto a que não foi alheio o custo ainda elevado do mesmo face ao condicionalismo económico em que a CASA viveu.

Que outras realizações gostaria de destacar?
Pela positiva gostaria de referir as, para mim, altamente significativas «romagens» à nossa região. Realizámos neste mandato duas em que os associados e seus familiares e amigos que participaram se mostraram bastante satisfeitos no final. E pela negativa quero destacar que, na sequência da reunião preparatória para o efeito havida em 28 de Julho de 2007, no Centro Cultural de Mirandela, e após o envio das respectivas conclusões elaboradas pela CTMAD a todos os intervenientes, se verificou um manifesto desinteresse por parte das autarquias traduzido no facto de apenas terem estado presentes dois Presidentes de Câmaras e um representante de um terceiro. A consequência foi o cancelamento do prosseguimento das nossas diligências feitas no sentido de realizar o 4º Congresso de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Há alguma atividade que outras direcções da Casa não tenham realizado também?
Há sim, destaco uma série de colóquios/debates com o título Educação e Desenvolvimento em Trás-os-Montes. Pessoalmente preocupado com os maus resultados globais que se verificaram nos últimos rankings das escolas, aos quais, aliás, atribuo um valor muito relativo, mas que em minha opinião não deverão ser ignorados, lancei uma série de acções em que, como professor durante 45 anos, doutorado e com a agregação em Didáctica da Física e autor e pesquisador que há muitos anos investe na área do ensino e da aprendizagem, me envolvi pessoalmente e convidei Colegas também especialistas, um dos quais já foi destacada figura do Ministério da Educação. Daí resultou uma lista de guidelines que irei tentar fazer chegar, directa ou indirectamente, às escolas da nossa região.

(Entrevista conduzida por Artur Monteiro do Couto).

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