Nasceu em São Martinho de Anta, uma aldeia serrana de Trás-os-Montes, proveniente de uma família de condições humildes. "Pobre pássaro que nasce em ruim ninho", diria o avô à sua nascença.
Mas, segundo escreve Fernão de Magalhães Gonçalves, estudioso da sua obra, este ser "É uma Força natural, indomada, selvagem". Essa força leva-o a falar (escrever) da sua terra e de si, como irmão de urzes e fraguedos, numa linguagem indomável, de fidelidade às origens ancestrais, mas que o tornará também universal e intemporal, segundo António Cabral.
Muito galardoado e estudado, Miguel Torga continua a ser um dos escritores mais conhecidos.
E 2007 é o ano de todas as homenagens.
A criança, nascida Adolfo, "regou o milhão" ou segurou o candeeiro de noite para que o pai o fizesse , aprendeu a conduzir a água e aa distribuí-la pelos regos, malhou o centeio e o trigo, viu crescer o pão, pisou o vinho. Em Novembro, trspassado pela geada e pela nortada, debaixo de cargas de chuva, integrava o rancho que todas as manhãs apanhava castanhas de terça, no souto do mercador.
Na adolescência, no Brasil, foi vaqueiro, apanhador de café, laçador de cavalos e caçador de cobras.
De regresso a Portugal, chega a Coimbra em 1924 onde, em pouco tempo, na sua sentida fome de aprender, faz o curso geral dos liceus e 6º e 7º anos do curso complementar. Adolfo Correia Rocha licencia-se em medicina, escolhe a especialidade de otorrinolaringologista e fixa-se em Coimbra.
Convive com grupos intelectuais, escreve e escolhe para si o pseudónimo de Miguel Torga, nome que lhe ficará colado, como uma segunda pele, pelo qual conhecemos a sua obra literária.
Procura captar para a sua obra de prosador, poeta, dramaturgo, o fundamental da experiência de outro ser humano e, também, a sua própria experiência de vida, são transfigurados em actos artísticos pelo seu intenso impulso criador.
Torga é uma raíz encorporada e rija, nascida livre, nas serranias. Miguel Torga afirma-se sempre como homem e intelectual livre, facto que, inevitavelmente, naquele tempo, o levará a ser encerrado no Aljube.
Mas asas da imaginação não se prendem com grades.
Vasta e variada é a obra que nos legou apesar de alguns dos seus livros terem sido apreendidos pela "censura", designadamente o "Diário VII" e os "Contos da Montanha", livro este que passaá a editar-se unicamente até 1969.
Também sua mulher, que fora nomeada professora da Faculdade de Letras de Lisboa em 1945, é expulsa desta instituição por ter feito uma chamada especial de exames para alguns alunos grevistas, entre os quais se contavam Urbano Tavares Rodrigues e David Mourão Ferreira.
Em Outubro de 1945, numa entrevista ao "Diário de Lisboa", Miguel Torga declara "os artistas não constituem uma classe. São livres e mágicos servidores de quem tem a verdade e a história pelo seu lado. Ora a verdade e a história estão, como sempre estiveram, do lado do povo."
Ler, reler Miguel Torga, é a emoção do reencontro da obra artística na Verdade, na História, no sentido cósmico e no Telúrico.
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Nota: Reflexão, com intertexto, depois ler, de Fernão de Magalhães Gonçalves, o seu livro de ensaio "Ser e Ler Miguel Torga".
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