António Cravo, nosso associado de Salselas (Macedo de Cavaleiros), escreveu-nos de Paris dando conta da existência de mais uma Casa Regional Transmontana em Pavillons-sous-Bois, nos arredores de Paris, fundada já em 29 de Maio de 1994. Contamos, em breve, dar o devido relevo a esta associação logo que dela recebida informação acerca dos seus objectivos e actividades desenvolvidas.
Não queremos, porém, deixar de encomiar este nosso conterrâneo que, embora vivendo a maior parte da sua vida em Paris, não deixa de ser um associado zeloso, cumpridor com as suas obrigações e com a CTMAD no coração.
António Cravo, habilitado com o Curso Superior de Sociologia da Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais de Paris, condecorado com a Medalha de Ouro da Internacional de Artes e Letras de França, foi o instituidor do Museu Rural de Salselas (que aconselhamos a visitar) e possui notável obra literária da qual destacamos os seus principais títulos: Poesia (“Os desenraizados”; “Vozes dos Emigrantes em França”; “Poemas Rurais”); Conto (“O Drama da Linha do Tua”; “O Regresso”); Sociologia (“Les Portuguais en France et leur Mouvement Associatif”); História (“Subsídios para a História do Teatro Português em França”); Etnologia (“Os Pauliteiros de Salselas”).
Há muito empenhado no associativismo da comunidade portuguesa radicada na região de Paris, tem leccionado para os nossos emigrantes e é colaborador assíduo de jornais de língua portuguesa ali editados.
Por curiosa, deixemos ele próprio testemunhar a história do seu pseudónimo:
“Cravo era a alcunha do velho camponês, pobre e analfabeto, António dos Santos Gonçalves, que passou a ser mais conhecido por António Cravo e que nascera na aldeia de Salselas a 26 de Outubro de 1886.
Esta linda alcunha passou para a família, prendendo-se, indirectamente, com o regicídio do rei D. Carlos I e que eu uso como pseudónimo do meu nome oficial, Jaime António Gonçalves, num acto de homenagem ao velho aldeão, meu avô materno.
Quando o meu avô foi cumprir o seu dever de militar coube-lhe a sorte de ser soldado na cidade de Penafiel. Alistou-se em 1906, ainda no tempo da monarquia em Portugal. Quando se deu o regicídio de D. Carlos (1 de Fevereiro de 1908), o meu avô ainda se encontrava no seu regimento em Penafiel. Então, houve uma ordem de serviço do quartel no sentido de que todas as praças, sargentos e oficiais que quisessem manifestar o luto pela morte do Rei podiam fazê-lo, deixando crescer as barbas ou, simplesmente, o bigode, segundo as informações que me transmitiu o meu avô.
O António foi um daqueles soldados que deixou crescer o bigode. Pouco tempo depois foi licenciado e regressou à sua terra natal, com a pele da cara menos curtida que o habitual pelo sol do campo, mais homem e com um bigode farfalhudo que lhe assentava bem no rosto da juventude. Na chegada à sua aldeia, dirigiu-se pela rua onde ficava, lá no cimo, a casa paterna, com uma varanda e escadas voltadas para essa rua, à maneira típica transmontana. Nessa varanda estava sentada a mãe de António Gonçalves. Dali via-se toda a rua até ao fundo. Quando aquela mãe viu um rapaz pela rua acima perguntou a alguém, que via melhor que ela, quem era aquele rapaz tão “pimpão”. Essa pessoa respondeu-lhe que era o seu filho que chegava da tropa.
A Tia Maria da Neves, mãe de António, desceu as escadas, encaminhou-se pela rua abaixo ao encontro do filho. Quando chegaram um ao pé do outro abraçaram-se, beijaram-se e vendo o filho tão diferente com o belo bigode, pela primeira vez, exclamou cheia de alegria: “Oh meu filho, vens lindo como um cravo!”.
Dali em diante toda aldeia só conhecia o António Cravo, que ressoou pelas aldeias vizinhas. Assim, quando este neto passou a escrever artigos e livros escolheu, então, para pseudónimo aquela alcunha do seu avô como acto profundo do seu reconhecimento, a fim de fazer chegar o mais longe possível o eco espontâneo de uma mãe cheia de amor e de alegria pelo regresso de um filho e porque este jovem “aceitou bem a alcunha, quase como verdadeira condecoração militar”.
A CTMAD espera que António Cravo nos continue a dispensar a sua amizade e atenção pois de tal modo os nossos conterrâneos muito poderão usufruir da sua esclarecida actividade cultural e associativa.
Não queremos, porém, deixar de encomiar este nosso conterrâneo que, embora vivendo a maior parte da sua vida em Paris, não deixa de ser um associado zeloso, cumpridor com as suas obrigações e com a CTMAD no coração.
António Cravo, habilitado com o Curso Superior de Sociologia da Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais de Paris, condecorado com a Medalha de Ouro da Internacional de Artes e Letras de França, foi o instituidor do Museu Rural de Salselas (que aconselhamos a visitar) e possui notável obra literária da qual destacamos os seus principais títulos: Poesia (“Os desenraizados”; “Vozes dos Emigrantes em França”; “Poemas Rurais”); Conto (“O Drama da Linha do Tua”; “O Regresso”); Sociologia (“Les Portuguais en France et leur Mouvement Associatif”); História (“Subsídios para a História do Teatro Português em França”); Etnologia (“Os Pauliteiros de Salselas”).
Há muito empenhado no associativismo da comunidade portuguesa radicada na região de Paris, tem leccionado para os nossos emigrantes e é colaborador assíduo de jornais de língua portuguesa ali editados.
Por curiosa, deixemos ele próprio testemunhar a história do seu pseudónimo:
“Cravo era a alcunha do velho camponês, pobre e analfabeto, António dos Santos Gonçalves, que passou a ser mais conhecido por António Cravo e que nascera na aldeia de Salselas a 26 de Outubro de 1886.
Esta linda alcunha passou para a família, prendendo-se, indirectamente, com o regicídio do rei D. Carlos I e que eu uso como pseudónimo do meu nome oficial, Jaime António Gonçalves, num acto de homenagem ao velho aldeão, meu avô materno.
Quando o meu avô foi cumprir o seu dever de militar coube-lhe a sorte de ser soldado na cidade de Penafiel. Alistou-se em 1906, ainda no tempo da monarquia em Portugal. Quando se deu o regicídio de D. Carlos (1 de Fevereiro de 1908), o meu avô ainda se encontrava no seu regimento em Penafiel. Então, houve uma ordem de serviço do quartel no sentido de que todas as praças, sargentos e oficiais que quisessem manifestar o luto pela morte do Rei podiam fazê-lo, deixando crescer as barbas ou, simplesmente, o bigode, segundo as informações que me transmitiu o meu avô.
O António foi um daqueles soldados que deixou crescer o bigode. Pouco tempo depois foi licenciado e regressou à sua terra natal, com a pele da cara menos curtida que o habitual pelo sol do campo, mais homem e com um bigode farfalhudo que lhe assentava bem no rosto da juventude. Na chegada à sua aldeia, dirigiu-se pela rua onde ficava, lá no cimo, a casa paterna, com uma varanda e escadas voltadas para essa rua, à maneira típica transmontana. Nessa varanda estava sentada a mãe de António Gonçalves. Dali via-se toda a rua até ao fundo. Quando aquela mãe viu um rapaz pela rua acima perguntou a alguém, que via melhor que ela, quem era aquele rapaz tão “pimpão”. Essa pessoa respondeu-lhe que era o seu filho que chegava da tropa.
A Tia Maria da Neves, mãe de António, desceu as escadas, encaminhou-se pela rua abaixo ao encontro do filho. Quando chegaram um ao pé do outro abraçaram-se, beijaram-se e vendo o filho tão diferente com o belo bigode, pela primeira vez, exclamou cheia de alegria: “Oh meu filho, vens lindo como um cravo!”.
Dali em diante toda aldeia só conhecia o António Cravo, que ressoou pelas aldeias vizinhas. Assim, quando este neto passou a escrever artigos e livros escolheu, então, para pseudónimo aquela alcunha do seu avô como acto profundo do seu reconhecimento, a fim de fazer chegar o mais longe possível o eco espontâneo de uma mãe cheia de amor e de alegria pelo regresso de um filho e porque este jovem “aceitou bem a alcunha, quase como verdadeira condecoração militar”.
A CTMAD espera que António Cravo nos continue a dispensar a sua amizade e atenção pois de tal modo os nossos conterrâneos muito poderão usufruir da sua esclarecida actividade cultural e associativa.
António Cepêda
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