domingo, 31 de agosto de 2008

LINHA DO TUA: "Não foi um acidente normal"

Sobre o recente acidente na Linha do Tua transcrevemos de Fernando Pires do JN online a entrevista ao maquinista da composição sinistrada.

Maquinista que tripulava composição acidentada estranha a ocorrência de tantos acidentes nos últimos tempos. Mas afasta a tese de explosão.

por FERNANDO PIRES

Pela segunda vez, em dois meses e meio, Fernando José Ferreira Pires viveu momentos dramáticos com o descarrilamento das composições do Metro de Mirandela que dirigia. O maquinista, de 47 anos, já não fala em explosão, como causa do acidente de sexta-feira, na linha do Tua, mas não acredita ter sido um acidente" normal". Apesar destes acidentes, o maquinista, funcionário do Metro de Mirandela há 13 anos, continua convicto que a linha do Tua é segura.


Como aconteceu o acidente?

Tínhamos acabado de passar por Brunheda e vinha a explicar a algumas pessoas, que estavam a tirar fotos e a filmar, que a partir daquele local até à estação de Santa Luzia estava a paisagem mais bonita desta viagem. Apesar de estar a conversar, não estava distraído e até seguia numa velocidade inferior a 35 quilómetros, o máximo permitido no local. Algumas centenas de metros depois de ter passado por baixo da ponte de Brunheda, numa ligeira curva à esquerda, a máquina pura e simplesmente saltou e caiu. Não tive hipótese de fazer mais nada. Já no primeiro acidente foi a mesma coisa, estava a cumprir as normas de limite de velocidade e ainda não sei o que terá acontecido.


Chegou a explicar ao presidente da administração do Metro de Mirandela que tinha havido uma explosão anterior ao descarrilamento. É verdade?

Na altura estava muito confuso e falei na possibilidade de ter havido uma explosão, mas poderá ter sido o barulho da máquina a descarrilar, a pisar a brita e as travessas. Mas continuo a dizer que estes acidentes não são normais. Tem de haver alguma coisa, porque a linha está constantemente em manutenção, a composição do Metro foi inspeccionada no dia anterior ao acidente. Alguma coisa de anormal se passou. É mesmo muito estranho. Tenho a plena convicção que se não houvesse contestação à construção da barragem do Tua, estes acidentes não teriam acontecido.


Mas isso quer dizer que coloca a possibilidade de ter havido sabotagem?

Não posso afirmar uma coisa dessas, mas que é tudo muito confuso, lá isso é. Já andamos a fazer este percurso, para a CP, desde 2001 e nunca houve qualquer acidente até 2007, com condições climatéricas bem mais adversas. Como é possível acontecerem quatro acidentes no último ano e meio, com tanto investimento feito na linha na sua manutenção e segurança?


Houve dificuldade em pedir socorro?

Não foi possível pedir socorro de imediato, porque, ao contrário do que aconteceu no acidente anterior, o nosso sistema de GSM não funcionou porque fiquei sem bateria. Um facto que também é muito estranho. Alguns minutos depois, o meu colega (revisor) e outras pessoas caminharam cerca de 500 metros até à ponte de Brunheda, onde havia rede de telemóvel, para avisarem as autoridades. Também tenho de elogiar o trabalho de socorro das autoridades envolvidas, que não demoraram muito tempo a chegar desde que foi comunicado o descarrilamento. Infelizmente, não foi possível salvar a senhora que ficou debaixo da composição.


Tem medo de voltar a operar na linha?

Não. Estou algo abatido emocionalmente, mas estou pronto para voltar ao serviço quando a administração assim o entender.


Com mais este acidente, não receia que a linha venha a encerrar definitivamente?

Algum. Andamos com o coração nas mãos, porque se a linha fechar, a sociedade do Metro vai ter de dispensar alguns operadores, dado que não é rentável fazer apenas a ligação entre Mirandela e Carvalhais.

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails